segunda-feira, 17 de março de 2014

Rasguem o coração, não as vestes

Rasguem seu coração e não suas vestes;
Voltem agora ao Senhor seu Deus,
Porque Ele é compassivo e clemente
Lento para a cólera, rico em misericórdia.

Pouco a pouco nos acostumamos a ouvir e ver, através dos meios de comunicação, a crônica negra da sociedade contemporânea, apresentada quase como um perverso regozijo, e também nos acostumamos a tocá-la e senti-la muito perto de nós e em nossa própria carne. O drama está nas ruas, no bairro, em nossa casa e, porque não, em nosso coração. Convivemos com a violência que mata, destrói as famílias, aviva guerras e conflitos em tantos países do mundo. Convivemos com a inveja, o ódio, a calúnia, o secularismo em nosso coração. O sofrimento de inocentes e pacíficos nos fere; o desprezo aos direitos das pessoas e dos povos mais frágeis não estão distantes; o império do dinheiro com seus demoníacos efeitos como a droga, a corrupção, o tráfico de pessoas – incluindo crianças – junto com a miséria material e moral são a moeda corrente. A destruição do trabalho digno, as emigrações dolorosas e a falta de futuro também se unem a esta sinfonia.  Nossas faltas e pecados como Igreja também não ficam fora desse panorama. Os egoísmos mais íntimos, a falta dos valores éticos dentro de uma sociedade que faz metastasis nas famílias, na convivência dos bairros, povos e cidades. Isso sem falar de nossa limitação, de nossa debilidade e de nossa incapacidade para poder transformar esta lista inumerável de realidades destruidoras.

A armadilha da impotência nos leva a nos questionar: Há sentido querer mudar tudo isso? É possível fazer algo diante dessa situação? Vale a pena esforçar-se se o mundo segue sua carnavalesca dança disfarçando tudo por um momento? Desse modo, quando cai a máscara a verdade aparece e, ainda que para muitos parecesse anacrônico dizer, volta a aparecer o pecado, que fere nossa carne com toda sua força destruidora modificando os destinos do mundo e da história.

A quaresma se nos apresenta como grito de verdade e esperança certa que nos vem responder que sim, é possível viver sem máscaras e sorrisos de plástico como se nada tivesse acontecido. Sim, é possível que tudo seja novo e diferente porque Deus segue sendo “rico em bondade e misericórdia, sempre disposto a perdoar” e nos anima a começar uma e outra vez. Hoje novamente somos convidados a enveredar um caminho pascal até a Vida, caminho que inclui a cruz e a renúncia; que será incomodo, mas não estéril. Somos convidados a reconhecer que algo não vai bem a nós mesmos, na sociedade ou na Igreja. Somos convidados a mudar, a dar uma volta, a nos converter.
Neste dia são fortes os desafios do profeta Joel: Rasguem o coração e não as vestes: convertendo-se ao Senhor seu Deus. É um convite a todos, ninguém está excluído.

Rasguem o coração e não as vestes de uma penitência artificial sem garantias de futuro.

Rasguem o coração e não as vestes de um jejum formal e normativo que segue nos mantendo satisfeitos.

Rasguem o coração e não as vestes de uma oração superficial e egoísta que não chega às entranhas da própria vida para deixá-la ser tocada por Deus.

Rasguem os corações para dizer como o salmista: “nós pecamos”. “A ferida da alma é o pecado: Ó pobre ferido, reconhece teu médico! Mostra a Ele as chagas geradas por tuas culpas. E sabendo que d’Ele não se escondem nossos pensamentos secretos, faça-O ouvir o gemido de teu coração. Mova a compaixão d’Ele com tuas lágrimas, com tua insistência, importunando-O! Que Ele ouça teus suspiros, que tua dor chegue até Ele de modo que ao final, possa dizer: O Senhor perdoou teu pecado” (São Gregório Magno). Esta é a realidade de nossa condição humana. Esta é a verdade que pode aproximar-nos da autêntica reconciliação... com Deus e com os homens. Não se trata de um descrédito da autoestima, mas de penetrar na profundidade de nosso coração e assumir o comando do mistério do sofrimento e da dor que nos amarra há séculos, milhares de anos... desde sempre.

Rasguem os corações para que por essa fenda possamos olhar-nos em profundidade.

Rasguem os corações, abram seus corações, porque somente em um coração rasgado e aberto pode entrar o amor misericordioso do Pai que nos ama e nos cura.

Rasguem os corações diz o profeta, e Paulo nos exorta quase de joelhos “reconciliem-se com Deus”. Mudar o modo de viver é um sinal e fruto desse coração desembaraçado e reconciliado por um amor que supera tudo.

Este é o convite, diante de tantas feridas que doem e que podem nos levar à tentação do endurecimento: Rasguem os corações para experimentar na oração silenciosa e serena a suavidade da ternura de Deus.

Rasguem os corações para sentir esse eco de tantas vidas desgarradas e que a indiferença não nos deixe inertes.

Rasguem os corações para poder amar com o amor com o que somos amados, consolar com o consolo que somos consolados e partilhar do que recebemos.
Esse tempo litúrgico que se inicia hoje na Igreja não é só para nós, senão também para a transformação de nossa família, de nossa comunidade, de nossa Igreja, de nossa Pátria, de todo o mundo. São quarenta dias para que nos convertamos até chegarmos à mesma santidade de Deus; convertamo-nos em colaboradores que recebem a graça e a possibilidade de reconstruir a vida humana para que todo homem experimente a salvação que Cristo nos deu com sua morte e ressurreição.
Junto com a oração e a penitência, como sinal de nossa fé na força da Páscoa que transforma tudo, também nos dispomos a iniciar, como nos outros anos, nosso “Gesto Quaresmal Solidário”. Como Igreja em Buenos Aires que marcha para a Páscoa e que crê que o Reino de Deus é possível, é preciso que nossos corações desgarrados e desejosos de conversão para assim, por amor, fazer brotar a graça no gesto eficaz que alivie a dor de tantos irmãos que caminham conosco. “Nenhum ato de virtude pode ser grande se dele não se segue também um benefício para os outros... Desse modo, por mais que jejues durante o dia, por mais que durmas no chão, e comas cinza, e suspires continuamente, se não fazes o bem a outros, não fazes nada grande” (São João Crisóstomo).

Esse Ano da Fé que estamos vivenciando é também a oportunidade que Deus nos dá para crescer e amadurecer no encontro com o Senhor que se faz visível no rosto sofrido de tantas crianças sem futuro, nas mãos trêmulas dos anciãos esquecidos e nos joelhos vacilantes de tantas famílias que seguem colocando-se na vida sem saber o que os espera.

Lhes desejos uma santa Quaresma, penitencial e fecunda Quaresma e, por favor, lhes peço que rezem por mim. Que Jesus abençoe-os e que a Virgem os guarde.

Paternalmente

Card. Jorge Mario Bergoglio s.j.
Papa Francisco

Quarta feira de cinzas.
Buenos Aires, 13 de fevereiro de 2013.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Que todos sejam um...


Quando rezamos o Símbolo Niceno-Constantinopolitano, com as afirmações daquilo que acreditamos enquanto Católicos, dizemos que cremos na Igreja “una, santa, católica e apostólica” CAT 59. Mas o que significa afirmar que a Igreja é una? De que forma ela alcança a plena e perfeita unidade? Como essa unidade pode ser demonstrada em nossas comunidades? A unidade, natural à essência da Igreja, deve ser refletida na vida daqueles que fazem parte do corpo místico de Cristo.

A união nasce do desejo do próprio Jesus, expressa na oração sacerdotal: “que todos sejam um” (Jo 17, 21). A Igreja, portadora da verdade revelada por Jesus e em Jesus, só encontra a sua plena realização e o cumprimento de sua missão na unidade. É o alicerce, base de todo diálogo de fé e sobre a fé. Ser católico de fato é defender a unidade encontrada no seio da Igreja. Não é buscar uma uniformidade que nos faz iguais uns aos outros, mas é aceitar as diferenças que cada um traz consigo e acolhê-las. É justamente aí que reside a beleza da unidade da Igreja.


Essa unidade não pode ser pela fragmentada. Deve ser inteira, integral, almejando sempre a perfeição. Ora, ela se espelha na perfeita unidade da trindade da qual nós fomos constituídos “imagem e semelhança” (Gn 1, 26) e esse é o ponto de referência ideal que nós devemos almejar. Unidade fragmentada pode ser aparente, mas não é e não cria comunhão. Enquanto Igreja a plena unidade geradora de comunhão só é encontrada na Eucaristia. De fato, no corpo e no sangue do Senhor que partilhamos na Celebração Eucarística, a Igreja se une de modo perfeito formando o corpo místico de Cristo.


Essa unidade eucarística deve então ser refletida no dia a dia de nossas comunidades. Ao receber Jesus eucarístico nosso desejo deve ser de conformar a nossa vida com a vida dele: a busca de uma perfeita comunhão uns com os outros. E essa unidade não deve ser exclusividade somente quando estamos na Igreja, mas deve ser expressão da cristandade. Aonde quer que estejamos, é preciso exalar o perfume da unidade como resultado da vivência eucarística que trazemos em nós. Ser cristão é vivenciar a unidade.

Quem se diz cristão deve primar pela unidade seja na sua vida ou na vida de sua comunidade. Somente na unidade vamos cumprindo a vontade do próprio Deus para cada um de nós e realizamos aquilo que é a missão última de nossa vida: “sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu" (Mt 5, 48).

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Carta de um jovem sobre a renúncia do Papa


Tenho 23 anos e ainda não entendo muitas coisas. E há muitas coisas que não se podem entender às 8h da manhã quando te acordam para dizer em poucas palavras: “Daniel, o papa renunciou.” Eu apressadamente contestei: “Renunciou?”. A resposta era mais que óbvia, “Renunciou, Daniel, o papa renunciou!”.


O papa renunciou. Assim amanheceu escrito em todos os jornais, assim amanheceu o dia para a maioria, assim rapidamente alguns tantos perderam a fé e outros muitos a reforçaram. Poucas pessoas entendem o que é renunciar.

Eu sou católico. Um de muitos. Desses que durante sua infância foi levado à missa, cresceu e criou apatia. Em algum ponto ao longo da estrada deixei pra lá toda a minha crença e a minha fé na Igreja, mas a Igreja não depende de mim para seguir, nem de ninguém (nem do Papa). Em algum ponto da minha vida, voltei a cuidar da minha parte espiritual e assim, de repente e simplesmente, prossegui um caminho no qual hoje eu digo: Sou católico. Um de muitos sim, mas católico por fim. Mas assim sendo um doutor em teologia, ou um analfabeto em escrituras (desses que há milhões), o que todo mundo sabe é que o Papa é o Papa. Odiado, amado, objeto de provocações e orações, o Papa é o Papa, e o Papa morre sendo Papa. Por isso hoje quando acordei com a notícia, eu, junto a milhões de seres humanos, nos perguntamos “por que?”. Por que renuncia senhor Ratzinger? Sentiu medo? Sentiu a idade? Perdeu a fé? A ganhou? E hoje, 12 horas depois, creio que encontrei a resposta: O senhor Ratzinger renunciou toda a sua vida.

Simples assim.


O papa renunciou a uma vida normal. Renunciou ter uma esposa. Renunciou ter filhos. Renunciou ganhar um salário. Renunciou a mediocridade. Renunciou as horas de sono pelas horas de estudo. Renunciou ser só mais um padre, mas também renunciou ser um padre especial. Renunciou preencher a sua cabeça de Mozart, para preenchê-la de teologia. Renunciou a chorar nos braços de seus pais. Renunciou a, tendo 85 anos, estar aposentado, desfrutando de seus netos na comodidade de sua casa e no calor de uma lareira. Renunciou desfrutar de seu país. Renunciou seus dias de folga. Renunciou sua vaidade. Renunciou a defender-se contra os que o atacavam. Sim, isso me deixa claro que o Papa foi, em toda sua vida, muito apegado à renuncia.

E hoje, voltou a demonstrar. Um papa que renuncia a seu pontificado quando sabe que a Igreja não está em suas mãos, mas nas mãos de alguém maior, parece ser um Papa sábio. Nada é maior que a Igreja. Nem o Papa, nem seus sacerdotes, nem os laicos, nem os casos de pedofilia, nem os casos de misericórdia. Nada é maior que ela. Mas ser Papa nesse tempo do mundo, é um ato de heroísmo (desses heroísmos que acontecem diariamente em nosso país e ninguém nota). Recordo sem dúvida, as histórias do primeiro Papa. Um tal... Pedro. Como morreu? Sim, em uma cruz, crucificado igual ao teu mestre, mas de cabeça para baixo. Hoje em dia, Ratzinger se despede de modo igual. Crucificado pelos meios de comunicação, crucificado pela opinião pública e crucificado pelos seus irmãos católicos. Crucificado pela sombra de alguém mais carismático. Crucificado na humildade que tanto dói entender. É um mártir contemporâneo, desses que se pode inventar histórias, a esses que se pode caluniar e acusar a vontade, que não respondem. E quando responde, a única coisa que faz é pedir perdão. “Peço perdão pelos meus defeitos”. Nem mais, nem menos. Quanta nobreza, que classe de ser humano. Eu poderia ser mórmon, ateu, homossexual e abortista, mas ver uma pessoa da qual se dizem tantas coisas, que recebe tantas críticas e ainda responde assim... esse tipo de pessoa, já não se vê tanto no mundo.

Vivo em um mundo onde é engraçado zombar o Papa, mas que é um pecado mortal zombar um homossexual (e ser taxado como um intolerante, fascista, direitista e nazista). Vivo em um mundo onde a hipocrisia alimenta as almas de todos nós. Onde podemos julgar um senhor de 85 anos que quer o melhor para a Instituição que representa, mas lhe indagamos com um “Com que direito renuncia?”. Claro, porque no mundo NINGUÉM renuncia a nada. Ninguém se sente cansado ao ir pra escola. Ninguém se sente cansado ao ir trabalhar. Vivo um mundo onde todos os senhores de 85 anos estão ativos e trabalhando (sem ganhar dinheiro) e ajudam às massas. Sim, claro.

Mas agora sei, senhor Ratzinger, que vivo em um mundo que vai sentir falta do senhor. Em um mundo que não leu seus livros, nem suas encíclicas, mas que em 50 anos se lembrará como, com um simples gesto de humildade, um homem foi Papa, e quando viu que havia algo melhor no horizonte, decidiu partir por amor à sua Igreja. Vá morrer tranquilo senhor Ratzinger. Sem homenagens pomposas, sem um corpo exibido em São Pedro, sem milhares aclamando aguardando que a luz de seu quarto seja apagada. Vá morrer, como viveu mesmo sendo Papa: humildemente.

Bento XVI, muito obrigado por renunciar.” 

Citação final e original: Sólo quiero pedir mi más humilde y sincera disculpa, si alguien se sintió ofendido o insultado con mi artículo. Considero a cada uno (mormones, homosexuales, ateos y abortistas) como un hermano mío, ni más, ni menos. Sonrían, que vale la pena ser feliz.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Por que andar de ônibus faz bem ao seu caráter

Encontrei esse texto por aí!
Concordo com isso... andar de ônibus além de ser consciente é humanizante...

... É claro que, pra quem anda de ônibus em Blumenau, e tem que pegar o 10, nem sempre é tão humanizante assim...

... mas achei interessante compartilhar!

Até!


By Fernanda Paiva



Não confie completamente em uma pessoa que nunca andou de ônibus. Não importa se hoje você tem um Camaro Amarelo (e é doce doce doce), se você já andou de ônibus em uma fase de sua vida, você não é a mesma pessoa. Digo mais: ainda que você tenha condições de comprar um Porsche para o seu filho quando ele fizer 18 anos, permita que ele passe ainda que poucos meses andando de ‘busão’. É que, para mim, este meio de transporte forma nosso caráter como chinelada nenhuma consegue fazer. Explico nos pontos seguintes.



1) Paciência

Tudo começa no processo de espera. Você se vê encostado na parada de ônibus esperando pela boa vontade do mesmo. Você até já decorou o horário que o “seu” ônibus passa. Mas se o motorista resolver pisar forte no acelerador e passar 3 minutos antes, só resta a você esperar mais 45 minutos pelo próximo.


2) Lidar com a humilhação

Vem ao longe o ônibus. Você reconhece no letreiro luminoso que é o SEU ônibus. Seu coração acelera. Você corre atrás dele como o Super Mario corre atrás da Princesa. Ele se aproxima e você percebe que o condutor não diminuiu a velocidade. Por algum motivo, o motorista passou direto com direito a um sorriso maroto, apontando para um suposto ônibus que vem atrás. Você fica com cara de tacho e a mão apontando para o nada.


3) Respeito às diferenças

Quando o “ônibus de trás” finalmente chega após 23 minutos, é claro que ele estará parcial ou totalmente lotado. Você se depara com um misto de sons e batuques, pessoas do Manassés pedindo doação, menino vendendo balinha e o cobrador com o humor pior do que o de um siri na lata. Você toca, ainda que não queira, pessoas que você jamais tocaria na zona de conforto de seu carro. Você é obrigado a lidar com gente diferente, sentar ao lado delas e até puxar assunto sobre “como o tempo hoje está quente”. Enfim: você deixa de lado seu ego e deixa de tanta frescura.


4) Altruísmo

Ainda que contra sua própria vontade, as Leis da Ética de Ônibus™ ‏dizem que você deve ceder seu lugar aos mais velhos e se oferecer para segurar os livros do estudante de ensino médio do cabelo esquisito que está em pé ao seu lado. Resumindo: você aprende NA MARRA a ser gente boa.


5) Capacidade cognitiva e filosófica

Janela de ônibus é praticamente a janela de sua alma. Não existe um lugar melhor para refletir sobre sua vida e colocar os pensamentos em ordem. Nem seu travesseiro; nem montes no Himalaia. Você acaba encontrando soluções para seus problemas, resolvendo cálculos complexos e tendo a ideia que faltou naquele brainstorm da reunião. Ou seja, de certa forma você se torna mais inteligente.



6) Educação

É no ônibus que você coloca em prática as palavras mágicas que sua mãe ensinou: “obrigado” (para o motorista, na hora de descer), “por favor” (a Deus, para que seu ônibus não demore tanto – todo dia peço isso a Ele) e principalmente o “COM LICENÇA” (por motivos óbvios). Ou seja: 1 ano de estágio probatório pegando ônibus e você se torna um gentleman ou uma lady.


7) Histórias para contar pros netos

Quem nunca passou por situações exóticas, engraçadas e inusitadas em ônibus? Quem nunca pegou o ônibus errado e foi parar em uma boca de fumo? (eu já!) Quem nunca ia descendo do ônibus e só na escadinha disse: “eita, esqueci de pagar! Perae moço!” (eu já) Quem nunca já sentou ao lado de uma senhora que foi com sua cara e resolveu te aconselhar com muita sabedoria? (eu já…)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Independência ou Morte

Já faz algum tempo que não escrevo nada por aqui...

mas decidi escrever animado pelo dia da independência que há poucos dias celebramos. Na verdade o que me inspirou a escrever foi a célebre frase de D. Pedro I às margens do Ipiranga...  "INDEPENDÊNCIA OU MORTE!"


Acredito que essa frase nem cause mais o mesmo impacto que tínhamos quando a ouvíamos no ensino fundamental. Talvez essa frase nem nos cause orgulho patriótico (aquele que regularmente sentimos em um gol do Brasil em final de copa do mundo)...

É triste ter que conviver com a realidade de que só nos orgulhamos de dizer que somos brasileiros assistindo uma partida de futebol, o que ultimamente nem disso podemos nos orgulhar.

Independente do sentimento que nos cause celebrar o dia da independência, quero pensar nessa frase que fez do Brasil, ao menos politicamente, livre: Independência ou morte.

É interessante porque longe de ser um jogo de palavras, a falta de independência em todas as circunstâncias conduz e leva a morte. Sem independência a morte é certa.  Quero dizer, em outras palavras, que o ser humano tem uma necessidade de ser livre... independente. E está fadado a morte se assim não for. E essa independência tem que ser interna e, sobretudo, interna.

Pensar em independência e liberdade externa é ter garantido o direito de tudo aquilo que está na Constituição: direito de ir e vir, de votar, de moradia, de cultura, de respeito e de tudo aquilo que ultimamente andam prometendo em campanhas políticas e que já é direito nosso há muito tempo!

Entretanto um outro tipo de independência é aquela de poder ser quem de fato se quer ser. Aquela liberdade que quebra o politicamente correto e me permite ser eu mesmo independentemente do lugar onde estou e de quem está comigo. Ser independente é ser quem se é! Sempre! Sem usar máscaras! Sem viver uma vida fingida!
Há sentimento tão ruim quanto o de não ser livre? De viver acorrentado? De ser forçado a usar máscaras e correntes sendo escravo de si mesmo ou da sociedade?

Também é verdadeiro que muitas vezes nós impomos correntes em nós próprios. Escraviza-mo-nos!


É precisa libertar-se! Tornar-se independente! E isso se dá quando somos capazes de caminhar com nossas próprias pernas sem nos preocupar com o que pensam e dizem de nós. Ser independente, livre, é poder ser quem se é.

Interessante perceber que Jesus, em sua missão, era aquele que quebrava as correntes da escravidão e devolvia a independência interior a quem quer que fosse.... Ele é modelo de independência interior. Conversava com os outros sem se preocupar com o pensamento dos outros. Ia em festas sem preocupação de ser chamado comilão ou beberrão. Abraçava leprosos, crianças...  Era interiormente livre!

E essa é a liberdade que devemos ansiar mais que tudo: A liberdade interior. 

terça-feira, 5 de junho de 2012

Minha quase secreta vida…



É bem interessante a reação das pessoas quando me conhecem e descobrem que estou à caminho do sacerdócio e na Vida Religiosa. Não é todo dia que se encontra um jovem de 24 anos que envereda por esse caminho.
Mas também acho bem interessante a curiosidade das pessoas quando começamos a decorrer numa conversa sobre como as coisas no seminário funcionam. Sobretudo se falo que jogamos futebol, que assistimos TV, que ouvimos música e que lemos Best Sellers atuais, o espanto é sempre incisivo: “mas padre pode fazer tudo isso???”

Claro que pode!

Não somos extra terrestres que desceram numa super nave espacial e queremos dominar o mundo!  Aí uma coisa é certa: por conta da falta de conhecimento e esclarecimento sobre o real começam-se a criar fantasmas e fantasias na cabeça das pessoas sobre a vida no seminário e sobre o sacerdócio.

Muita gente ainda pensa que vivemos num sistema medieval, que não temos energia elétrica, que no seminário existem túneis subterrâneos semelhantes às masmorras medievais… 

Entendo que pelo fato de morar num castelo algumas intuições fantasiosas até que fazem sentido. Eu acho tudo isso bem engraçado, mas por detrás disso se revela a falta de conhecimento das pessoas com relação ao que realmente é o seminário e da Vida Religiosa.

Por trás de tudo em nossa vida está o seguimento de Jesus. E o nosso desejo é anunciá-lo com nossas palavras, atitudes, mas sobretudo com a nossa vida.
Pedro começou a dizer-lhe: "Eis que deixamos tudo e te seguimos." Respondeu-lhe Jesus. "Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna. 
Mc 10,28-30
Então, o seminário é um lugar de gente que encontrou com esse Jesus e decidiu dar a Ele aquilo que tem de melhor: sua vida. Assim o seminário não é um lugar de gente triste, cabisbaixa, com o pescoço encurvado, que passa o dia inteiro falando duas palavras…

O seminário é lugar de gente alegre, feliz, que brinca, ri, reza, se diverte, usa calça jeans e roupa social, ama Jesus e a Igreja, vai a missa diariamente e acredita naquilo que busca e    vive. Não é lugar de gente perfeita, mas está muito longe de ser aquilo que o imaginário popular vê.


A própria palavra, SEMINÁRIO (sementeira), nos remete àquilo que de fato quer significar. É lugar de cultivo, de experiência, de aprofundar e enraizar… nem que para isso sejam necessários 8, 10 ou 14 anos. 

Isso mesmo, essa é a média do tempo do itinerário do jovem até chegar no sacerdócio. E em algumas congregações religiosas pode levar ainda mais tempo.

Muito tempo?  

Não para quem já começa a percorrer o caminho do seguimento de Jesus no primeiro dia de seminário. É preciso conhecer Jesus com a cabeça, mas sobretudo com o coração para ser padre e, mais do que isso, um padre santo. 

Nesse caso, nem duas faculdades são suficientes para conhecer Jesus com o coração, ou, em outras palavras, para experienciar Jesus.

Quero repetir que a vida no seminário não é perfeita. 
Nós brigamos, discutimos, temos opinião própria (que nem sempre está de acordo com a opinião do outro), tomamos direções que não estão de acordo com nossa opção de vida… nosso sangue também ferve na hora do futebol (ninguém é de ferro quando seu time está perdendo hahah). 

Mas sabemos da importância do perdão e que é condição, não somente para quem vive no seminário, mas para todo cristão. Então seminário também é a casa de gente que perdoa, que valoriza o outro e que o trata como irmão.
Ainda estamos longe daquilo que deveríamos ser, do nosso ideal, mas estamos caminhando… e quem caminha sempre está mais perto do lugar da chegada. Quem pára não chega nunca, mas quem caminha, mesmo correndo o risco de não chegar, está mais perto da chegada…



Se para alguns estar no seminário é perder a vida, deixar de aproveitar o que de bom a vida tem pra oferecer na melhor fase jogando a juventude no lixo, penso (e acredito!) nas palavras do próprio Jesus; “quem perde a sua vida por causa de mim, esse a salvará” Lc 9,24.

Para quem pensa que o seminário é lugar de tristeza e solidão, convido-o a visitar e conhecer um seminário (você será bem vindo aqui em casa!) e ver a alegria estampada no rosto de quem ali vive.  Digo isso também dos seminários que não conheço, afinal aquele que segue Jesus não pode viver de tristeza e solidão. 

Não somos um bando de solteirões que vivem trancados... somos pessoas que encontraram um tesouro, que vale mais do que a nossa própria vida!

sábado, 2 de junho de 2012

Eu reclamo de quem reclama...

Sinceramente... Nossa geração tem criado pessoas muito boas na matéria de insatisfação e reclamação. Não anseio fazer qualquer generalização, mas cada pessoa é um ser individual dotado de particularidades. 

Gente insatisfeita que não sabe dizer outra coisa que não seja reclamar... 
Se o tempo esfria reclamam que está frio...
Mas se está calor reclamam que está muito quente!

Nada está bom!!!

E vocês hão de concordar comigo que o Facebook tem se tornado um lugar de demonstração da eterna insatisfação interior e reclamação...
Reclamam porque é segunda feira e tem que trabalhar a semana toda...
Reclamam porque não tem feriado para descansar na semana, ou no mês...
Reclamam porque a sexta feira ainda está muito longe e vai demorar para ir na "baladinha" com os amigos pra dançar "Ai, se eu te pego" ou pra encher a cara de cerveja até não conseguir mais...
Reclamam de Deus que não os escuta, mas faz tempo que não falam com Deus.
Reclamam de não ter nada que possam reclamar!

Chega! 

Não eximo de ninguém do direito de reclamação, de criticidade, mas pelo amor: Reclamem de algo que seja crítico; reclame pensando, reclame racionalmente, reclame de algo que valha a pena... ou não reclame!

Aqui há que se fazer uma importante distinção entre duas coisas:
Aquilo que está fora do ser humano e o que está dentro, no interior.

O interior e o exterior são ligados... afetam-se diretamente.
Em outras palavras, o ambiente em que vivo não é determinante, mas influencia na construção daquilo que eu sou de verdade, minha essência, ou seja, meu interior.
E o interior vai refletir no meu exterior.
Quero dizer que a fonte da reclamação pode estar no mais profundo da pessoa... 
Ela pode estar muito mais insatisfeita com ela mesma do que com as coisas que a cercam... mas para tanto é melhor reclamar daquilo que está ao redor, fora, do que daquilo que está dentro e que é o que de fato temos que criar coragem para mudar.

Não sei se fui claro...
se não fui leia novamente! hahaha

O mais importante contudo é viver a vida de modo suave, sereno, alegre...
Nós temos duas opções a cada manhã: Acordar, ver que estamos com a cara amassada e continuar com a cara amassada o resto do dia ou acordar, lavar o rosto, abrir um sorriso e viver aquilo que temos pra viver. Problemas todos temos. Tristezas todos temos... Eu, você, o garçom, o caixa do mercado, o engraxate, o presidente e o Papa...
O que vai nos diferenciar é o modo como nós olhamos pra realidade.
Se sorrir é o melhor remédio, reclamar é o pior.
E nada mais desagradável do que estar perto de alguém que vive de reclamar!

Por isso, vista-se de branco! Alegre-se!
A vida é muito curta para viver de reclamações...

Enquanto eu espero que o facebook deixe de ser um ninho de insatisfeitos, prefiro viver minha vida sorrindo... e agradecendo.

E, é claro, não poderia deixar de postar esse vídeo. Àqueles que justificam sua insatisfação sentindo-se as pessoas mais infelizes e insatisfeitas do mundo...
Que nos sirva de lição...
E que possamos ser mais alegres e mais satisfeitos!